segunda-feira, 21 de junho de 2010

EU ODEIO COPA DO MUNDO

“O Brasil é o único país do mundo cuja seleção de Futebol consegue transformar uma Terça-Feira num Domingo”

Foi minha conclusão após o primeiro jogo da seleção. Eu tava distante da minha mulher (ela estava com familiares), e alguns amigos convidaram-me para assistir ao jogo na casa de um deles (sempre torço contra o Brasil e sou muito “pé frio”). Como as outras opções de atividades restantes seriam referentes ao uso de um computador, preferir embarcar nessa misteriosa viagem.
Por que as pessoas se envolvem tanto com Copa do Mundo?
Um argumento típico dos pais mais ranzinzas responderia dizendo que “esse povo brasileiro não vai ganhar nada se o Brasil ganhar, vão todos continuar a passar fome”. Pior é que é verdade: ganhando ou perdendo, nada seria alterado em escala primária na vida do Brasileiro. Ele teria mais assunto (nossa, como esse assunto é engrandecedor, hein?), mas os impostos continuariam altos (governo LULA e resquícios do governo FHC), a segurança continuaria tão ridícula como atualmente, a saúde pública continuaria infartando como sempre, e tudo que não presta no Brasil continuaria não prestando. Típico de Brasileiro: morrendo de fome, inseguro, sem emprego, mas batendo forte a mão na camiseta amarela falsificada, gritando “eu sou Hexa”.
Lá pelas tantas, o Brasil faz um gol.
E toma-lhe: o povo soltou fogos no céu. Fumaça, rojão, estalo, “catolé”... Quem tem ou já teve cachorro grande em casa sabe que é uma merda quando o bicho fica apavorado. E eu lá, vendo o que parecia um ensaio de contra-ataque contra ISRAEL. Um “Catolé” espocou pertinho de mim, fazendo meu ouvido direito (o mais sensível) reclamar como uma garota de calcinha rasgada. O responsável pelo estouro me olhou com uma cara de linda inocência concedida, gritando: “Pega, foi gol!”. Me deliciei imaginando ele gritando “GOOOOL”, ao mesmo tempo em que um “catolé” mandasse a bunda dele pelos ares.
Rua enfeitada: isso é pra acabar.
Acabou o estoque de tinta amarela e verde das lojas. Levou 7 meses para a prefeitura asfaltar adequadamente a rua perto da Av Buriti, no Distrito, mas ninguém reclamava. Para pintar a rua, foi necessário 48 horas, e TODOS ESTAVAM SUPERVISIONANDO. Dá orgulho ser cidadão nessa cidade, né?
Na minha outra casa, onde moram minha mãe e meus irmãos, o vizinho (com quem eu nunca troquei nem 4 palavras), chegou todo sorridente:
-“Ae, cumpade, tem como contribuir pra enfeitar a rua”?
Me diverti bastante imaginando todas as possibilidades de respostas que eu poderia proferir naquele momento. Afinal a deixa foi ótima. Escolhi uma resposta levezinha, pois o humor do meu vizinho poderia não ser tão refinado quanto o meu (moldado à horas e horas de exposição ao Chandler do seriado “Friends”) e inevitavelmente eu teria que cruzar com ele em outra possível situação. Respondi:
“Claro, vizinho! Mas vocês poderiam pintar a Bandeira da Korea do Norte no sentido perpendicular da Rua? É pra combinar com as bandeirolas azul, vermelho e Branco que eu vou ajudar a vcs comprar pra colocar aqui na frente de casa!”
Juro que existe a possibilidade desse cara não ter entendido até hoje a piada. Um amigo meu ouviu o meu relato, fez o mesmo, e até agora, a rua dele tá enfeitada de badeirinhas amarelo e verde, faltando justamente o pedaço da frente da casa dele...
Voltando ao meu vizinho... Ele ficou com uma cara de bunda gigantesca olhando pra mim. Eu segurava o sorriso, esperando ele falar algo que me permitisse rebater e assim iniciar uma saudável discursão (admito, adoro discutir). Então ele disse algo inesquecível (e típico de um cara que tava de boné, rosa, bermuda de tactel amarela e abadá do “Cala a Boca e Beija Logo” estendida no ombro):
-“POU, AE VOCÊ QUER QUEBRÁ A FIRMA, MANO”
Me espoquei de rir. Que se fodesse o respeito alheio. Pra amenizar, perguntei:
-qual o valor mínimo de contribuição?
Juro que perguntei bem intencionado. Se ele respondesse que eu podia dar o quanto eu pudesse, eu ajudaria de boa. Mas ele me deu a pior resposta que alguém poderia dar naquela situação:
-POU, QUALQUER “DÉ REAU” AE TÁ VALENU.”
Fato: não daria Dez Reais nem pra minha mãe tomar conta do meu carro. Não é implicância minha com os galerosos. Afinal, só por ter sido criado a vida inteira na COMPENSA, considerada o Brooklin de Manaus, já sou considerado galeroso. Mas o que me irrita é essa relação quase mitológica que a maioria deles tem com o valor monetário “DÉ REAU”. Pode observar: tá precisando de ajuda: me dá “DÉ REAU”! Quanto é pra entrar nesse forró? “DÉ REAU”! E essa camiseta, cara, quanto custa? “DÉ REAU”. Dez Reais são úteis pra definir muita coisa, inclusive uma ideologia, um estado de ser!
Transito então nem se fala. No Jogo contra a Costa do Marfim, eu e minha mulher decidimos fazer compras. Precisávamos de um micro-ondas, e o local mais próximo no itinerário seria o bem-posicionadíssimo Studio 5 (estávamos na minha outra casa, que fica no Distrito, e eu pensei: Por que não? “Fumo pra lá”.
Já na rua, dava pra perceber o trânsito “diabólico”: sou amazonense, manauara, e com propriedade concedida pela descendência digo que somos um povo muito mal-educado com o que diz respeito a obedecer às leis básicas de trânsito. Não havia engarrafamento: havia o perigo de você ser alvejado por fogos de artifício, isso se você não atropelasse algum dos infinitos bêbados.
Chegando no Studio 5, surpresa: “esse estabelecimento só abrirá depois das 16:30!” eu sou obrigado a ter que esperar a Copa do Mundo pro mundo voltar ao horário comercial! Nunca praguejei tanto uma derrota do Brasil como nessa vez!
Passei pelo Manauara, mas antes que parasse, vi os cones posicionados impedindo a entrada. E andando próximo ao Boulevard, tive que frear o carro (isso quando o sinal tá aberto pra mim) porque tinha de deixar passar três carros cruzar a rua (isso quando o sinal tá vermelho pra eles)! INACREDITÁVEL!
E aonde eu parei nessa história? Na casa do meu amigo, vendo o jogo. Maldita maldição!

4 comentários:

  1. Estou nessa com vc...
    esse bendito jogo mudou toda a minha rotina x.x
    Pior é ter que aturar o ''patriotismo'' alheio
    #argh

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  2. Cara, isso ae eh lei. Nem acho errado a mobilização pra Copa, até CERTO PONTO, até curto. Acho péssimo é a FALTA DE MOBILIZAÇÃO no restante do tempo. Teu comentário sobre a pintura da rua proxima à Av. Buriti mostra isso perfeitamente.

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  3. O fato é que esse é único período do ano em que brasileiro é patriota e se orgulha do lugar de onde nasceu, em época de copa tudo é festa e se esquecem do resto, mas fazer o quê??

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  4. Copa é "Pão e Circo", pois as emissoras e o governo aproveitam para as pessoas esquecerem os problemas do país.Assim como o Carnaval, pois nesse período, ninguém pensa na corrupção, na pobreza, na fome e na eleição.

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